Contar a história da Viúva Lamego
é contar a história do azulejo Português.

Uma viagem ao passado
Casa da Música, por Rem Koolhaas
A fábrica do Largo do Intendente

Ao longo de cinco séculos, o azulejo tem vindo a ser usado como forma de expressão nos mais variados contextos. Mais do que uma opção estética, o azulejo português é o reflexo de influências culturais, sociais e económicas inseparáveis da História do país.

A produção de azulejos em Portugal data de meados do século XVI, contudo, é no século XIX, que esta indústria se afirma definitivamente. A crescente procura oriunda do Brasil de louças e azulejos portugueses, ideais para proteger os edifícios do clima quente e húmido, levou ao aparecimento de fábricas de cerâmica por todo o país. Fundada em 1849, a Viúva Lamego foi uma das primeiras.

Uma fábrica no Intendente

Construído entre 1849 e 1865, o edifício sito no Intendente apresenta a fachada decorada na íntegra por azulejos figurativos, da autoria do director artístico da fábrica, Ferreira das Tabuletas, num exemplo pioneiro do uso do azulejo como meio de publicidade. Originalmente a oficina de olaria de António Costa Lamego, veio a converter-se em fábrica, e adoptou a denominação Viúva Lamego quando a mulher de António Lamego assumiu a sua gestão, na sequência da morte do marido, em 1876.

O edifício, hoje classificado como imóvel de interesse público, é um dos mais emblemáticos da cidade, sendo um ex-libris do azulejo de estilo naïf oitocentista.

Do barro ao azulejo

Nos primeiros tempos, a fábrica produzia sobretudo artigos utilitários em barro vermelho, azulejos em barro branco e alguma faiança. Com a chegada do século XX, o azulejo tornou-se o principal produto da Viúva Lamego, já então uma fábrica virada para os artistas, com ateliers de trabalho que colocava à sua disposição.

Nos anos 1930, a componente industrial foi mudada para a Palma de Baixo. Ali ficou até 1992, ano em que foi transferida para a Abrunheira, em Sintra, onde se hoje encontra a actual fábrica. O edifício no Largo do Intendente passou a estar aberto ao público para exposição e venda de azulejos.

Construída entre 1849 e 1865, a fábrica do Intendente era
originalmente a oficina de olaria de António Costa Lamego.

Um ícone de outra era que ainda hoje orgulha Lisboa
Um espaço que convida à experimentação
Pintura manual
Projectos especiais
Painel de Maria Keil

A criação artística

A partir dos anos 1930, um dos pilares da Viúva Lamego foi a colaboração com artistas plásticos, que viram potencial criativo nas características do azulejo. Estando presentes na fábrica, falando com os artesãos e participando em todas as fases dos projectos, criadores de diferentes quadrantes contribuíram para a revitalização da cerâmica artística em Portugal.

Um dos casos mais paradigmáticos é o de Jorge Barradas, cuja carreira multifacetada se iniciou no desenho de humor e publicidade para culminar na cerâmica e azulejo. O trabalho pioneiro que desenvolveu na área - criado em parte na Viúva Lamego -, contribuiu para ser considerado figura chave da renovação da cerâmica a nível nacional e para inspirar vários artistas mais novos que o seguiram, como Manuel Cargaleiro ou Querubim Lapa.

Maria Keil e a arte pública

É nesta altura, segunda metade do século XX, que os azulejos de padrão captam a atenção da comunidade criativa. Agrada-lhes o elemento democratizante e as possibilidades de combinação. Maria Keil foi uma das primeiras artistas a explorar os limites da padronização no azulejo.

As composições contínuas, com variações de cor e composição, tornaram-se marcas das obras assinadas por Maria Keil. Exemplo máximo são os painéis de azulejo criados para o Metropolitano de Lisboa que, como todos os projectos da artista, foram produzidos na Viúva Lamego.

É também durante os anos 1960, que os espaços públicos passam a ser vistos como ideais para inovar e experimentar, dando força ao conceito de arte pública. Numa confluência de artes ímpar, a arquitectura e o urbanismo integram o azulejo, um suporte versátil e prático.

Os grandes projectos de arquitectura

A partir do momento em que há espaço para a arte nos edifícios públicos, a relação entre arquitectos e artistas plásticos estreita-se. Os mestres da Viúva Lamego são chamados a contribuir em projectos arquitectónicos inovadores que privilegiam o azulejo, assinados por nomes como Siza Vieira, Souto de Moura ou Rem Koolhaas, todos estes vencedores de prémios Pritzker.

Um dos arquitectos mais empenhados nesta integração do azulejo na arquitectura é precisamente Siza Vieira. O Pavilhão de Portugal para a Expo 98, as estações de metro da Baixa-Chiado (Lisboa) e S. Bento (Porto), revelam como o traço contemporâneo e a azulejaria tradicional se podem complementar.

Arte, arquitectura, Azulejo

Projectos deste nível elevam a azulejaria ao plano da arte. Ao associar azulejo à criação artística contemporânea a Viúva Lamego garante que a tradição não só se mantém, como se renova.

O caminho trilhado por Álvaro Siza, Cargaleiro, Erró e outros tem vindo a ser continuado pelas novas gerações de artistas e arquitectos que veem no azulejo um material de eleição para experimentar e na Viúva Lamego o espaço que acolhe as suas ideias mais arrojadas.